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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A igreja e a questão homossexual: Como lidar com o tema?






Por Bráulia Ribeiro

Era um travesti alto, magro e desengonçado, e tinha uns implantes. Não sei como começou na homossexualidade, mas disse que tinha sede de Deus desde antes. Quando criança, num passeio a uma Igreja Católica com sua mãe, viu um caixão de vidro com uma estátua de Jesus dentro. “Igreja do Jesus morto”; a mãe era devota. Quando chegaram perto, ele, pirralho, sentiu que Jesus lhe olhava.

– Mãe, Jesus está vivo!
– Pare de dizer besteira, menino… – ela não viu, mas ele sabia que Jesus não estava morto.

Adulto, Daisy foi se desiludindo consigo mesmo numa sede que não terminava por outro tipo de vida, apesar de ter tudo o que um travesti poderia desejar, como um parceiro e um filho adotivo. Ligava o rádio na sintonia dos pentecostais. Ouvia músicas e pregações o dia inteiro.

Não se cansava nem da repetição nem dos chavões. Ouvia até a hora de sair para ganhar a vida na rua. Tornou-se um hábito ouvir o evangelho. O parceiro e os vizinhos se irritavam. Daisy ficava mais amuado, mais convicto. Começou a ler a Bíblia.

Uma noite não agüentou mais. Percebeu que não tinha coração para levar a vida assim. Decidiu que aquela seria a sua última noite na rua. Ouviu rádio e pegou a Bíblia. Abriu no primeiro capítulo de Apocalipse, que fala sobre a revelação de Jesus, em suas vestes de luz e língua como espada de fogo. Lindo! Assim seria sua fantasia, a última da vida de rua.

– Vou de “drag-jisas”.

Enfeitou-se todo de branco e dourado, reverente. Não era uma drag qualquer, era o próprio Jesus de uma maneira simbólica dizendo-lhe que chegara sua hora de mudar. Não conseguiu fazer a vida naquela noite; pregava sem parar, como os pregadores do rádio que ouvia há tanto tempo. Pregava para as prostitutas, para os clientes, para os passantes. O ponto se esvaziou, os habituais corriam para não ouvi-lo. Finalmente, no romper da manhã, tendo arruinado a noite de todos os freqüentadores do ponto, sentou-se feliz, cantando uma daquelas músicas do tipo “sai demônios e vem Jesus”.

Logo depois Daisy adoeceu e descobriu-se portador do vírus HIV.

Estranhamente não teve medo. Sua irmã conhecia algumas pessoas em Belo Horizonte e resolveu dar uma passada por lá para ver se encontrava ajuda para ele. A vida tem seus caminhos; ao receber a medicação, Daisy encontrou também algumas pessoas do grupo VHIVER, que ajuda portadores do vírus da aids a viver com qualidade. De lá esbarrou nos crentes da Caverna de Adulão e conheceu o Jesus que amava. Converteu-se, “destravecou-se”, “homenzou-se” do melhor jeito que pôde. O parceiro ficara no Rio de Janeiro com o filhinho adotivo.

Teve de dizer-lhe que era homem agora e que cuidaria do filho, mas já não seria “casado”. Sentiu-se puro como um bebê. Dizia que já tinha feito sexo demais a vida toda e agora não precisava mais; iria viver para Deus de todo o seu coração…

Mas não podia ficar em Belo Horizonte, tinha de voltar ao Rio. O Geraldo, da Caverna, se preocupou: “E agora, o que vai ser de Daisy? Quem vai entendê-lo para integrálo?”A essa altura Daisy já se chamava como homem, mas os trejeitos de uma vida no submundo não saem fácil. As marcas (as mãos na cintura, o andar reboloso e a voz fina que ainda desafina) ficam. Daisy voltou para o subúrbio do Rio. Despachou o parceiro, pegou suas coisas e mudou-se. Mas aí veio a parte dura: conseguir um emprego, se sustentar de maneira digna e encontrar uma igreja onde fosse aceito. Nos primeiros meses quase não tinha dinheiro; a única congregação do bairro era o lugar mais perto. As emoções de Daisy ainda eram as emoções de uma caricatura de mulher. Ia à igreja esperando amor como o que encontrara em Belo Horizonte. No começo encontrava o porteiro:

– “Tem culto hoje não, desculpe.”
– “Ah…” – o ar decepcionado de Daisy não mudava em nada a cara do porteiro.

Infelizmente a igreja não conseguiu entender o rapaz. Daisy tentou mais uma e mais outra. Mas o que aconteceria se no bairro vissem aquele homem ainda com peitos freqüentando os cultos? Terminou por entender que não era bem-vindo – mais uma ferida para carregar para quem já sofreu tantas.

Sem ajuda na fé e sem apoio econômico e social para recomeçar, a fé de Daisy se apagou. Geraldo o viu um dia desses nas páginas de uma revista, militando pela causa homossexual, e respirou aliviado, pensando: “Pelo menos ele ainda está vivo…”

Daisy, se você está lendo isto, tente outra vez. Vamos aprender a caminhar com você pelo caminho da restauração. Vamos aprender a fazer da sua vergonha a nossa vergonha e, pelo naosso amor, fortalecer a sua fé naquele que nos transforma.


***
Fonte: Solomon

Comentário de Leonardo Gonçalves:

Esta semana almocei com um pastor e amigo aqui no Peru. Ele me contou que estava aflito, sem saber o que fazer, pois descobriu que um membro ativo da sua igreja é gay. Segundo meu amigo pastor, este irmão confessou isso em meio à muitas lagrimas... soluçando. Disse que nunca fez sexo com homens, mas já foi beijado algumas vezes por outros gays.

Na conversa, o jovem contou toda sua vida.Entre seus relatos mais fortes, está aquele em que o pai abandonou a familia quando ele tinha 7 anos. Ele correu desesperado chorando e gritando o nome do pai pela rua, mas o pai não parou. Então, o menino parou de correr e olhou para trás, e viu o irmão menor, também chorando. Ele enxugou as lágrimas e prometeu a si mesmo que nunca mais iria chorar pelo pai. Agora ele era o homem da casa. E assim foi...

Trabalho duro desde cedo para ajudar em casa, responsabilidades cada vez maiores eram colocadas sobre seus ombros. Sempre que isso acontecia, ele repetia inconscientemente: "A culpa é do meu pai". Cresceu, foi estudar na cidade, e teve que morar de favor na casa de um rapaz. Um dia este rapaz entrou na casa e, trêmulo, lhe beijou. Isso se repetiu por muito tempo, e ele nunca reclamou, pois morava de favor. Na época ele não gostava dos beijos, e diz que sentia nojo.

Ele diz odiar o pai até hoje. Contudo, o seu relato deixa transparecer que ele projeta em seus amigos o carinho que quis dar e receber do pai. Uma carencia afetiva que chegou a um ponto extremo, pôs em derrocada as emoções e culminou em uma confissão e um desesperado pedido de ajuda.


Amigo pastor,

Você e sua igreja estão preparados para receber, ajudar e integrar pessoas assim?

Não precisa responder agora. A pergunta é pura retórica... Se não tiver a resposta, apenas ore.


Um comentário:

  1. "Eu vejo que Deus Ama a todos".
    Minha oraçaõ a Deus é que Tenha Pastores ou lideres Religiosos que ajudam pessoas como eu (homoxessuais)á trilharem os ensinsamentos de Jesus;Pastores e lideres religiosos a Amarem como Jesus nos Ama a nos todos.Que nunca aponte os dedos e que nunca os escremina,e que se coloquem nos seus "lugares de homoxessuais".Ame-nós como se fossem seus proprios filhos ou melhor,como se fossem a si proprio.

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